quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Secrets

Vou fugir um pouco de mim mesmo,
vou observar a noite que se aproxima,
a chuva que loucamente cai na rua quente,
o rio que galga as suas margens..
Vou..
Vou ver o fogo que vai brilhar bem no alto,
as rolhas que vão irromper a contagem,
as caras que num mar me perdem..
Vou..
Vou abraçar-me a vocês,
Vou largar o que me perseguiu
e deixar que o novo se entranhe
que supere as marcas no corpo de um ano passado..
Vou contar ate ao zero e berrar..
Libertar os meus pulmões de todo e qualquer sentimento
que esteja aqui encarcerado..
Vou sonhar
Vou pedir desejos
Vou mandar mensagem
Vou dizer o quanto..
Vou ver um ano novo a chegar,
uma vida nova a começar..
Vou largar os meus segredos
deixa-los pairar no céu por uma noite
e acreditar que o futuro vai mudar..
Porto
Baixa
Aliados
5
4
3
2
1
..
Vou começar..
Vou contar a historia,
refazer tudo o que faz de mim quem sou..
Vou voltar a guardar os meus segredos no peito e,
vou..
Vou ser Feliz!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

All the Right Moves

"Let's paint the picture of the perfect place.."
pensei em não mais escrever,
porque falta me a inspiração dos poetas, mas uma voz soou-me aos ouvidos.. não tenho o dom de tornar as palavras belas, mas sim de por em cada palavra, sentimento.
pensei então pintar, com os movimentos certos, pintar o que sinto num papel branco, sem imagem nenhuma e torna-lo único, meu, porque só os meus dedos, as minhas mãos deixam o rasto daquilo que sou..
ao som da musica peguei então no papel e na tinta.. faltavam os pincéis, e como tudo na vida, também aqui terei de ter tudo perfeito.. e sem eles não consigo moldar o tempo, a tinta e transformar aquilo num pedaço de mim..
as coisas velhas não são velhas ate que assim o decidamos, e os pequenos recipientes de tinta que trazem consigo as memorias de infância são ainda capazes de pintar mares e sóis..
vermelho;
azul;
preto;
verde;
amarelo;
castanho;
branco;
cinzento;
e uma maior variedade de tons esperava por mim, pelo pincel que mergulhava no copo de água como que a espera de uma nova vida. vou pintar o lugar perfeito. vou olhar pela janela onde escorrem gotas de chuva e ver as copas das árvores que se abanam ao som do vento que corre e leva em segundos o que em tempos cá esteve.. mas qual e o lugar perfeito?
uma praia paradisíaca?
uma cachoeira no meio dos montes?
o frio que nasce da neve num campo nórdico?
não consigo responder, mas pintar cada um deles porque não? porque não estas lá, e sem ti, não há lugar perfeito. então vou te desenhar, vou te pintar e assinar com pseudónimo para que não descubram que aquele pincel um dia te pintou.. e que era eu quem segurava no pincel..
vou manter o anonimato, porque quem te pinta é o meu coração e esse não tem nome senão o que inventaste para mim..
riscos começaram a surgir no papel.. e aquilo que um dia parecia virgem sangrou pela primeira vez ao escorrer a tinta pelo papel.. com a melodia que não pára de tocar no computador, a luz da vela e a claridade do ecrã são o meu dia para pintar..
continuei assim ate que por fim estava pronto..
o papel era meu..
o branco deu te lugar..
e pousei os pincéis.. fechei a tampa das tintas.. e fiquei parado num momento que não pode ser quebrado a observar o que fiz..
pintei o lugar perfeito..
o meu..
não usei palavras porque não as quis tornar tormentos aos olhos.. mas as palavras nunca se afastaram, porque da minha boca iam saindo..


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Morning After Dark


..

20:00:00
..
fez-se luz, e interiormente pensei, desejei que seria uma mensagem, mas não, apenas o relógio, são 20:00.
são as mesmas horas de ontem, de há uma semana atrás, de um mês atrás, e serão certamente as mesmas horas do dia de amanha.. mas as horas de ontem, as horas de hoje e as horas de amanha nada tem em comum senão o simples numerário que regula aquilo que chamo de vida..
o que ontem senti, não o sinto hoje e muito menos o sentirei amanha, porque ontem foi ontem, hoje, hoje é, e amanha o será!
mas continuei, desviei o olhar da frente do ecrã e fixei as horas, não era nada mais que as horas.
retornei ao que fazia anteriormente e desliguei o computador.
peguei no casaco, no cachecol e no gorro e nas chaves e sai porta fora..
escadas
portão
carro
luzes
e segui, segui caminho ao encontro do nada, porque o nada era o que procurava..
a chuva que cai não e a mesma da noite passada, e já não corro o risco de ser levado pela enxurrada. vejo os olhares, as conversas, os movimentos depravados de um grupo de amigos que suavemente bebe chá ao som da trovoada, o fumo que sai da boca que acabou de beijar o cigarro.. vejo tudo isso e o telemóvel na mão, espero, sorrio e ouço..
fez-se luz, não eram as horas, era a mensagem..
os olhos pararam, o fumo estagnou e o chá fico gélido a escorrer do bule..
o mundo retraiu-se ao som das palavras que ecoavam pela mente, e que desenhavam um brilho nos olhos.. mas o brilho enganador da dor que senti..
olhei
fixei
pousei
vi
e sai daquele espaço que não era meu..
corri pela noite com as lágrimas a misturar-se com as gotas de chuva que incessantemente batiam na minha face.. tropecei, cai e fiquei assim colado ao chão, a sentir ao frio da noite em núpcias com o temporal.. de repente a chuva amainou, o frio recolheu-se.. foi o tempo de recuperar, de reunir o que ainda possa chamar de forças e sair dali. o aperto já se tinha rompido e a noite estava a chegar ao fim onde os primeiros raios de sol começavam a afastar as trevas da noite, dessa noite, desta noite!
de volta a casa pelo caminho, no meio de guarda-chuvas estragados um papel que com a tinta a escorrer dizia, o amor não é lógico, mas nos somos.
carro
portão
escadas
quarto
cama
..
20:00:01
..
desviei o olhar do telemóvel e voltei a fazer o que anteriormente fazia..
afinal nada disto passara de um segundo..