terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Morning After Dark


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20:00:00
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fez-se luz, e interiormente pensei, desejei que seria uma mensagem, mas não, apenas o relógio, são 20:00.
são as mesmas horas de ontem, de há uma semana atrás, de um mês atrás, e serão certamente as mesmas horas do dia de amanha.. mas as horas de ontem, as horas de hoje e as horas de amanha nada tem em comum senão o simples numerário que regula aquilo que chamo de vida..
o que ontem senti, não o sinto hoje e muito menos o sentirei amanha, porque ontem foi ontem, hoje, hoje é, e amanha o será!
mas continuei, desviei o olhar da frente do ecrã e fixei as horas, não era nada mais que as horas.
retornei ao que fazia anteriormente e desliguei o computador.
peguei no casaco, no cachecol e no gorro e nas chaves e sai porta fora..
escadas
portão
carro
luzes
e segui, segui caminho ao encontro do nada, porque o nada era o que procurava..
a chuva que cai não e a mesma da noite passada, e já não corro o risco de ser levado pela enxurrada. vejo os olhares, as conversas, os movimentos depravados de um grupo de amigos que suavemente bebe chá ao som da trovoada, o fumo que sai da boca que acabou de beijar o cigarro.. vejo tudo isso e o telemóvel na mão, espero, sorrio e ouço..
fez-se luz, não eram as horas, era a mensagem..
os olhos pararam, o fumo estagnou e o chá fico gélido a escorrer do bule..
o mundo retraiu-se ao som das palavras que ecoavam pela mente, e que desenhavam um brilho nos olhos.. mas o brilho enganador da dor que senti..
olhei
fixei
pousei
vi
e sai daquele espaço que não era meu..
corri pela noite com as lágrimas a misturar-se com as gotas de chuva que incessantemente batiam na minha face.. tropecei, cai e fiquei assim colado ao chão, a sentir ao frio da noite em núpcias com o temporal.. de repente a chuva amainou, o frio recolheu-se.. foi o tempo de recuperar, de reunir o que ainda possa chamar de forças e sair dali. o aperto já se tinha rompido e a noite estava a chegar ao fim onde os primeiros raios de sol começavam a afastar as trevas da noite, dessa noite, desta noite!
de volta a casa pelo caminho, no meio de guarda-chuvas estragados um papel que com a tinta a escorrer dizia, o amor não é lógico, mas nos somos.
carro
portão
escadas
quarto
cama
..
20:00:01
..
desviei o olhar do telemóvel e voltei a fazer o que anteriormente fazia..
afinal nada disto passara de um segundo..



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