segunda-feira, 31 de maio de 2010

Drip Drop

Sinto-me cansado, esgotado como que a energia que tinha me tivesse sido roubada..
Já nem o meu refugio, encostado a um rio, ladeado de montes, me dá a força que outrora dava.. Talvez porque o silencio e a solidão, encorajam o meu pensamento a ir mais além.. e aí volto a pensar, a sonhar como um dia sonhei, nas mesmas pedras, nos mesmos caminhos, nos mesmos jardins.. mas esses sonhos de menino, não são mais que resticios de anos em que não lutava para não sofrer.. mas que vivia e sentia que a vida, tinha uma colher de sopa de sofrimento num bolo que era recheado de risos, palhaçadas, brincadeiras..
Mas esse tempo esfumou-se e deu origem a algo que se calhar nem eu pensava que fosse acontecer..
E sinto-me abafado por uma ideia que não mais consigo destruir.. mas no meio desse cansaço, por viagens perdidas, olhares trocados, lágrimas escorridas, há sempre uma coisa que se mantém, e que me ampara mesmo com todo este cansaço.. São abraços, mensagens que transformam as lágrimas em pequenos diamantes que ficam cravados no coração.. Foram pessoas que estão longe, foram abraços que não foram mais do que são.. São momentos que não abandonam.. Muitos passaram e por tempestades foram reduzidos a fotografias e vídeos.. Manchas numa tela que a previa imaculada.. e poucos são os que se constituem pedras, como que fundações de uma casa que sem elas acabam por ruir..
Passam as horas e aqui sentado à janela sinto a brisa da noite entrar pelo quarto, enquanto ouço a musica e sinto vontade de saltar, de dançar e perder-me no meio de uma névoa que me leve de novo para..
e olho que mesmo com a brisa a chama da vela se mantém acesa, tal como quem enxuga as minhas lágrimas dia após dia, semana após semana..
E nesse luminoso espaço que apenas se reflecte numa parece desnudada.. vejo aquilo que foi a minha força, a minha segurança, o meu porto de abrigo quando o meu barco ameaçou afundar..
Vejo uma Cidália, uma Tina, um João Pedro.. Vejo um Tiago, uma Renata, uma Joana, uma Ana Alice, um Zé Rui.. Vejo todos aqueles que de um modo ou de outro ainda me fazem sentir cansado, mas porque estou vivo.. e porque de alguma forma, todos vocês conseguiram..

"These tear drops
That drip drop, drip drop
Drip drop, drip drop"
parar..



quarta-feira, 26 de maio de 2010

Há Dias Assim

dias assim em que me levanto e olho para a janela, e não vejo nada..
Há dias assim, que sorrateiramente abro um olho, e te sinto acariciar-me, em que sinto os teus dedos pelo meu cabelo..
Há dias assim, não posso esconder, mas posso esquecer..
Dias assim onde a tua influência não passa de uma leve brisa que se sente ao virar da esquina, e outros onde és como que uma tarde ventosa à beira mar, onde levantas areias que te tocam na pele e perfuram como se de uma bola de sabão te envolvesses.. E continuo deitado, com a cabeça tapada pelos lençóis e a esforçar-me para adormecer de novo, porque a dormir encontro dias e noites, momentos em que tudo está bem, em que tudo é como o sonho que desejei.. até que um segundo, um simples, rápido e doloroso segundo te faz pensar em algo.. premonição talvez, dolorosa realidade..
Há dias assim que nos deixam sós..
Há dias assim em que acordo e sinto que o que fiz não foi feito, que o que vivi foi um mero acaso do destino, malfadado destino, que se ri dos meus percalços.. dias assim em que fiquei com a mágoa mesmo quando as mãos apertamos.. não sei que dias foram esses, não os relembro no meu diário, porque ainda espero que tudo não passe de um desacerto da vida, e que o verdadeiro acordar, o verdadeiro atracar nesse porto se realize.. mas..
Quem te me levou, roubou-me a alma
e não sei se voltarão a haver dias assim..
Assim só me detenho num busca pelo incógnito, pela satisfação do que me atormenta, do porquê, do teu porquê!! Serão dias perdidos entre cá e lá, já não sei de nada.. apenas me perco por entre lendas..
Há dias assim, em que acordamos e percebemos que de ti não se sabe nada!






domingo, 23 de maio de 2010

Balançar

Eu, vejo azul..
Tu, vês branco..

Eu, via verde..
Tu, castanho..

Eu, estranho..
Tu, em casa..

Eu, aqui..
Tu, aí..

Eu, buraco..
Tu, presidente..

Eu, caminho, pé ante pé, e acompanhado vivo um silêncio, silêncio esse que murmura e encosta ao ouvido o sopro de uma despedida.. Esse silêncio, que vive de medo e tristeza.. Não se fazem regras para evitar o até já, o adeus.. não se fazem regras para viver no silencio, num toque dos lábios no copo.. não se fazem regras para se perceber o porquê de um passo..
Foi um, foram dois, talvez três, não sei.. Não tomei atenção, porque a cada passo que dava em frente, mais em mim sentia vontade de regressar.. e ver-te, caminhar sem ninguém do teu lado.. e a chuva a bater nos vidros da frente..
O sol foi abrasador, queimou me a pele, enquanto nos sentávamos na esplanada.. foram Águias, Cabras, Pinguins, Pandas.. Ticos e bzzz's..
Foram 48 e uns extras.. e eu não queria voltar.. A Lua guardada na minha memoria, o nascer do sol que aconteceu e não se viu..
Senti-me agarrado, zourado e abraçado.. Senti que o mar verde, no qual navego, é ainda o mar que retém a suavidade da luz, do veludo.. Senti também, o perigo, o rasgar do peito com um voraz desejo de liberdade.. Senti..
Senti o fumo do cigarro que sai num leve movimento de bocas.. o cigarro que encheu o espaço de uma névoa onde o farol estava no centro, como que num palco, num monumento, no centro de uma festa..
E tudo assim correu como corre o vinho por uma garrafa que se adivinha quase vazia..
e assim os passos e o silencio.. esse conjunto me levou para longe de ti.. e agora, o meu coração se pergunta incessantemente.. Até quando?! Até que momento.. Até onde, eu voltarei a estar.. assim.. eu.. tu..!


Eu, sentado..
Tu, de pé..

Eu, em águas de pedras..
Tu, em clarões silenciosos..

Eu..
Tu..

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cry

A melodia começa..
Suavemente vai mostrando, se os olhos fecharmos, como que uma paisagem paradisíaca..
Não se ouvem palavras, não se percebem sentidos.. são 48 segundos em que me deixo navegar num mar que não tem lógica, nem explicação..
não sou pirata, nem capitão,
não sou almirante e nem pescador, mas percorro um oceano desconhecido que tem um só porto no seu todo..
São esses 48 segundos que terminam..
São uns segundos mais que se seguem.. como os segundos do oitavo deficiente em que entrei e subi, segundos esses que me levaram a este mar que não tem inicio, nem se vê o fim..
Não é possível um olhar derrubar toda uma espécie de barreiras e muros construídos para defender.. não é possível, e no entanto, por meios de pequenos toques, por simples toques de dedos na mesa, a barreira inexpugnável foi fragilizada..
Ataques vis de exércitos que envergam as armas de Poseidon e o verde nas suas vestes.. Verde esse que derrubou o negro que reinava num mundo apagado..
Mas de repente me pergunto..
Como pode o verde ocupar tanto espaço..
Como pode o verde ser capaz de dar mais luz que o sol..
Como pode o verde?!?!
Agora reparo que me encontro a navegar nesse mar, que por mais incrível que se pareça, não é azul.. é verde.. verde como campos de relva.. verde como os bosques na primavera que tem a florir em si, a beleza de um mundo.. Navego nesse mar, verde, e volto a dizer que não sou dono do meu próprio barco,porque esse barco em que navego foi me emprestado..
Não soou qualquer buzina, não soou qualquer alarme.. as amarras foram libertadas, paisagens ditas num adeus.. portagens de montes esquecidas.. para que as águas quentes que prometem casamentos se escorram pelos remos de uma viagem..
Navego ao som desta musica, escrita por alguém, para alguém..
Sinto a alegria a nascer quando o minuto passa, como a energia da melodia se revolta e explode num minuto e dezasseis segundos..
Como um novo tom de verde numa palete de cores que guardo no pulso.. deixei a minha ancora nesse porto, assinada.. mostrando que é minha..
Navego neste barco, não tanto à deriva porque sei onde é o porto onde posso permanecer..
não sei qual o caminho, a rota a seguir..
Mas sei qual o fim a atingir..