quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ouvi Dizer

Frio..
A noite estava fria, nem os milhentos cobertores que tinha sob o corpo me aqueciam..
a TV tinha-se desligado.. a Playstation tinha ficado sem bateria.. ouvia o barulho dos sinos do mosteiro, e só esse som entrava naquele espaço onde eu estava inerte agarrado a uma almofada, a esperar pelo calor que nunca mais queria chegar e assim não me deixava dormir.. passaram as horas.. e um momento de devaneio chegou.. levantei me e olhei pela janela..
nada vi naquela noite de inverno, fria, abandonada de vida..
nem um carro a passar.. um cão a ladrar.. apenas eu ali, em pé, encostado a um vidro que teimava em não me deixar sentir a brisa que se fazia sentir..
Desisti..
Finalmente o sono invadia o meu corpo que começava a sentir-se cansado..
voltei a deitar-me no sofá..
embrulhei-me nos cobertores e fechei os olhos..
adormeci por fim..
Até que.. "Está a nevar em Baguim" me acordou..
e pensei.. se neva lá então aqui também deve nevar..
a criança que sou levantou-se a correr, não quis saber por momentos do frio e abri a janela.. em pijama vi pequenos flocos de neve que caiam perdidos pelo ar..
pensei, que finalmente voltaria a ver neve cair na terra onde as memórias estão mais frescas..
sentei-me no chão e assim fiquei a admirar a neve que lentamente ia caindo e se tornava cada vez mais espessa e abundante..
Senti-me feliz, e voltei a imaginar-me envolto num manto branco..
Por fim sai da sala, sai de casa e fui para a rua.. tinha ouvido dizer que tudo melhoraria e a neve que se fazia sentir poderia se tornar numa tempestade que me ia prender por momentos na história daquele lugar..
tinha tantos planos para esse dia.. e no fundo toda a alegria que me invadia se foi como que uma página que se vira..
rápida e bruta..
porque depois de se virar a página ela não volta para trás a não ser que nós mesmos o façamos..
estava feliz.. mas não estava completo..
faltava a presença de alguma coisa, que teima em não estar presente a não ser cá dentro..
tentei não pensar, mas a imagem dos relvados verdes tornados brancos..
as copas das árvores negras banhadas de branco..
tudo isso fez-me regressar ao momento da melancolia e da saudade que teima em permanecer..
esta espera que faz de mim um crente..
não sei se burro se aventureiro e audaz, mas que espera que no meio de tanta neve que embora linda se sente fria consiga um dia ouvir dizer..
"A cidade esta deserta
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte
Nas casas, nos carros,
Nas pontes, nas ruas...
Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura
Ora amarga,ora doce
Para nos lembrar que o amor é uma doença
Quando nele julgamos ver a nossa cura.."

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